Já lá vai algum tempo que não escrevo aqui, mas enfim, nos últimos tempos a minha vida deu uma grande volta e o tempo tem sido curto. Mudei-me de malas e bagagens para a capital já há uns meses, confesso que nunca pensei gostar da vida aqui. Mas pelos vistos estava enganada.
Vivo num dos bairros típicos da cidade, Alfama, onde as antigas fachadas das casas respiram o som do fado que se ouve por todas as ruas e ruelas. Os pregões, esses, não acabaram, acordam pela madrugada na voz de mulheres que gritam pelas Quelhas a louvar o novo dia e a lembrar ao povo que o dia já está a raiar.
Apesar de toda a velhice das casas e da própria cidade, não deixa de ser uma cidade cheia de cor, onde culturas e etnias se misturam a cada esquina, onde as tradições são levadas por pessoas que não esperaríamos.
Falo de tudo isto porque um dos meus passatempos favoritos é olhar paras as pessoas ver as suas diferenças e semelhanças e tentar compreender o ser humano. Claro que é uma tarefa complicada, mas não deixa de ser gratificante. E como aprendi com um turco capitalista, temos que ter a noção de que nunca sabemos nada, porque por mais que saibamos de um assunto nunca saberemos tudo. E talvez seja a resposta a muitas das nossas dúvidas!
No entanto é incrível como o preconceito continua, pois ainda há pessoas a levantarem se do seu lugar nos autocarros só porque uma pessoa de outra raça se senta ao seu lado.
Também é incrível ver os bairros de lata espalhados nas encostadas dos arrabaldes da cidade, onde crianças respiram os odores de algumas drogas, onde vivem com gritos incessantes e brigas sem razão de ser.
Talvez daqui a uns tempos consiga escrever aqui alguma coisa que melhor caracterize esta cidade, mas que nem sempre será uma visão para todos, porque cada um tem a sua própria percepção das coisas.
A conclusão que tiro para isto tudo está bem explicita numa frase que li hoje, os espíritos que não são bons procuram morder em quem vale mais que eles….